Salão do Automóvel

14/11/2016

Em casa nova, o Salão do Automóvel de São Paulo edição 2106, abriu suas portas ao público no dia 10. Mais enxuto e civilizado, a mudança do pavilhão Anhembi para o São Paulo Expo, promete uma exposição mais ‘civilizada’, em ambiente com ar-condicionado.

Cada salão tem sua própria personalidade. O de São Paulo, foi o da crise econômica e em termos de novidades o foco foi divido entre os inúmeros SUVs, único segmento com perspectivas de crescimento, e os carros conceitos do segmento superesportivos que irão utilizar tecnologia elétrica/híbrida.

Marcam presença no pavilhão paulista quase todas as marcas presentes no mercado brasileiro. Duas ausências chamam a atenção. A Volvo, que segundo um representante da marca em visita à mostra, tem por estratégia participar de apenas quatro salões internacionais por ano e o de São Paulo foi, desta vez, cortado. A Ferrari, que sempre atrai atenção especial dos visitantes, foi outra que optou pela ausência. Em compensação, a Maserati, que é do grupo, está presente e mostrou com destaque o recém-lançado SUV Levante, surpreendendo ao anunciar o início imediato das vendas no Brasil. O modelo chega com duas configurações de motor, de 350 cv e o denominado Levante S (Sport) com 430 cv. Serão duas versões de acabamento, Luxury e Sport, cujos preços são de R$ 640 mil e R$ 740 mil.

A crise econômica que o país enfrenta com a consequente queda do mercado, foi enfatizada em todas as entrevistas coletivas. Os números apresentados mostram que o mercado automotivo regrediu 10 anos. A vendas previstas para 2016 (que deve atingir entre 1,8 e 1,9 milhão de unidades) se equiparam ao volume de 2006 (1.832.471 unidades emplacadas, segundo a associação de revendedores – Fenabrave).

Crise econômica

O mais enfático sobre o tema crise foi José Luis Gandini, presidente da Kia Motors do Brasil e também da Abeifa (associação que reúne importadores e alguns fabricantes). Ele definiu como “medida absurda, tomada por nosso antigo governo” os 30 pontos percentuais a mais de IPI, que os veículos importados são obrigados a recolher desde novembro de 2011.

“Após o recolhimento de 35% de imposto de importação e toda a carga tributária que os veículos produzidos no Brasil recolhe, a Kia paga 30 pontos extras de IPI”, desabafou. Assim, enquanto um carro nacional paga 13% de IPI, o importado Kia paga 43%. Ou seja, um carro importado vendido por R$ 100 mil paga R$ 43 mil, enquanto um nacional paga R$ 13 mil, exemplificou.

Para conseguir sobreviver diante da nova medida, Gandini solicitou ao governo naquela época, uma cota sem os 30 pontos percentuais extras de IPI seguindo como critério para definição de volume, a média dos últimos três anos antes da lei. A sugestão foi aceita. Só que o governo acrescentou um parágrafo limitando em 4.800 unidades por ano isentos dos 30 pontos extras de IPI. Sem a cláusula limitadora, disse Gandini, a Kia Brasil, pela média dos últimos três anos, teria direito a 52 mil unidades por anos, volume que ele considera “plausível” para uma marca que, à época, tinha uma rede de 180 concessionárias autorizadas e mais de 400 mil veículos comercializados.

A Kia era e continua sendo a maior “importadora pura” do Brasil e foi a “grande prejudicada” com a medida, disse. Ele lembra que com a queda do mercado as demais marcas de veículos importados “sequer conseguiram vender suas próprias cotas” sem o IPI adicional. Basicamente apenas a Kia vem vendendo alguns veículos fora da cota e pagando os 30 pontos adicionais de IPI, afirmou.

O resultado, diz, foi queda nas vendas Kia de 80 mil carros em 2011 para algo em torno de 10 mil neste ano. Diante desse quadro recessivo 75 concessionárias da marca foram fechadas. Isso representou a eliminação de 5 mil postos de trabalho, “o que vale dizer que a medida já tirou o sustento de 20 mil pessoas”. O governo também perdeu com a medida, ressalta. Ele lembra que em 2011, quando venderam 80 mil veículos, a Kia recolheu aos cofres públicos US$ 1,6 bilhão em impostos. Após a medida do IPI adicional a venda deverá cair este ano para 10 mil veículos, o faturamento em reais cairá 83% e o recolhimento de impostos será abaixo de US$ 120 milhões, o que representa uma queda de 92,5%, indicou Gandini.

A esperança de Gandini é que, diante da impossibilidade jurídica e política de se mexer no Inovar-Auto antes de 31 de dezembro de 2017, o governo Temer aprove a possibilidade, que está em estudo, de liberar as cotas não utilizadas pelos importadores em 2015 e 2016 a empresas que precisam de mais volumes, como a Kia, como forma de viabilizar uma recuperação “parcial” das empresas importadoras que investiram no país e ainda mantêm um representativo canal de distribuição.

Os argumentos do presidente da Kia não seriam válidos se a queda das vendas da marca seguisse a mesma toada da queda geral do mercado. Mas o que se observa não é isso. Enquanto entre 2010 e 2016 o mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves registra uma queda de quase 60%, as vendas dos veículos coreanos Kia amargam declínio de 80% no mesmo período.

Deixando de lado o quadro dramático da economia o que se observou nos discursos dos fabricantes e importadores no Salão do Automóvel de São Paulo foi esperança e otimismo que com a mudança do comando do governo federal e dos condutores da política econômica o quadro já apresenta sinais de estabilidade.

Novidades

Mostrando racionalidade e atenção aos custos, os expositores deste ano, de forma quase unânime mostraram que apostam suas fichas nos SUVs. A General Motors trouxe para o palco, além da versão hatchback do Cruze Sport6, o Tracker com novo desenho dianteiro, que promete uma melhor relação custo/benefício aliada à evolução tecnológica e adequação à nossa realidade flex.

Com suas novidades já apresentadas antes do Salão, a FCA – Fiat Chrysler Automobile limitou sua apresentação à versão do Mobi com motor de três cilindros e como destaque o Spider 124, um conversível de design nostálgico, mas sem chances de chegar ao mercado brasileiro, segundo a Fiat.

A Ford reservou para o Salão o anúncio há muito esperado. Finalmente decidiu iniciar a importação oficial do cobiçado Mustang. A pré-venda começa em 2017 e os primeiros devem chegar no final de 2018. Ainda vai demorar um pouco, mas dependendo do comportamento do mercado pode ser antecipado, e também, lógico, adiado. Dois exemplares do Mustang, um vermelho conversível e outro preto coupé, ao lado do superesportivo Ford GT, atraem o olhar e a curiosidade dos visitantes.

Na Volkswagen a atração fica por conta do Budd.e uma releitura futurística da Kombi movida a eletricidade, com autonomia de 533 quilômetros e bateria recarregável em 30 minutos. Outra atração, dessa vez mais próxima da realidade, foi o Golf GTE Sport híbrido.

A Honda matou a curiosidade do público que pedia a revelação de seu terceiro SUV; desta vez o compacto WRV, que o fabricante japonês chama de “pequeno gigante” pelo contraste entre suas reduzidas dimensões e ótimo espaço interno. Trata-se de um projeto liderado pela Honda Brasil, que passa a ser produzido no primeiro semestre de 2017 na fábrica de Sumaré e terá motor de 1,5 litro.

Na onda dos SUVs, a Renault está no Salão de São Paulo com três novas SUVs para os segmentos compacto, médio e grande. O compacto Kwid, o médio Captur e o grande Koleos, todos com chegada prevista para 2017. O primeiro será o Captur, em fevereiro do próximo ano, produzido no complexo industrial de São José dos Pinhais (PR). O modelo chega com duas versões de motorizações: 1.6 de 120 cv e câmbio manual e 2.0 com 148 cv e câmbio automático.

A BMW anunciou no Salão do Automóvel a chegada do utilitário esportivo compacto X2 ao mercado nacional em 2018. Uma versão conceito do modelo é destaque no estande da marca na mostra. O carro é construído sobre a mesma plataforma do X1, montado em Araquari (SC). Apesar disso, por enquanto a empresa descarta a possibilidade de o veículo ser nacionalizado.

No estande Hyundai o destaque é o Creta, novo SUV que será fabricado na fábrica de Piracicaba (SP). O modelo chegará em duas versões de motorização: o propulsor Gamma 1.6 de 130 cv com opções de câmbio manual ou automático de seis marchas e a versão com motor Nu 2.0 com 166 cv com transmissão automática também de seis velocidades. Outra novidade é a apresentação pela primeira vez no Brasil de um modelo de sua marca de luxo Genesis, com o sedã G90.

A Peugeot voltará a importar o utilitário esportivo 3008, agora renovado. Ainda sem preço definido, ele chega até o fim do primeiro semestre de 2017. O motor 1.6 THP de 165 cavalos movido somente a gasolina será mantido. Atrai a atenção no estande da marca o Fractal, um cupê/conversível elétrico. Mais de 80% de suas peças internas foram produzidas em impressoras 3D. O esportivo utiliza motores elétricos traseiros com potência total de 204 cavalos e suas baterias de íons de lítio de 40 quilowatts garantem autonomia de até 450 quilômetros.

Com discrição extrema a marca que promete dominar o mercado mundial de automóveis no futuro próximo, a norte-americana Tesla, também está no Salão de São Paulo. É essa sua primeira iniciativa na América Latina. Ela mostra o Model S, que pode ser comprado em uma loja em São Paulo com preços a partir de R$ 550 mil. A empresa responsável pela investida Tesla no Brasil é a norte-americana Elektra.

 

Fábio Doyle