Rodízio não é suficiente

04/11/2017

Segundo o presidente da associação Ibero-Americana para a Mobilidade Urbana Sustentável, Pablo Serrano, menos de 50% das grandes cidades da América Latina contam com transporte ferroviário.

As grandes cidades da América Latina, como São Paulo, têm capacidade de fazer muito mais do que já fazem a favor da mobilidade. Essa é a opinião do espanhol Pablo Noy Serrano, presidente da Associação Ibero-Americana para a Mobilidade Urbana Sustentável (ASIMUS) e da Associação Espanhola de Car Sharing. Ele esteve na capital paulista, no último dia 31, a convite do Instituto Mobih, para participar da conferência internacional “A Cidade e o Jovem – Mobilidade e Tecnologia”, que reuniu diversas entidades e especialistas no assunto para debater sobre a mobilidade humana e seus desafios.

De acordo com Serrano, o auxílio dos esquemas de rodízios de veículos, são úteis, porém insuficientes. “As grandes cidades da América Latina têm capacidade de fazer muito mais pela mobilidade, de investir em soluções alternativas de transporte, que vão trazer uma real solução para os problemas da cidade. Ampliação da rede ferroviária e metrô, faixas exclusivas de ônibus, esquema de carona solidária, todas essas medidas podem ser eficazes para solucionar grande parte dos problemas de trânsito e para construir uma cidade mais sustentável”. O especialista acrescenta que a rede de transporte público só vai funcionar bem, em qualquer lugar do mundo, quando estiver totalmente integrada.

Exemplo que vem da Europa

Em sua palestra, Serrano apresentou um panorama da mobilidade e do uso da tecnologia em seu benefício, em Barcelona, sua cidade natal. Para o engenheiro, é importante ter em mente o real conceito de mobilidade. “Existe uma diferença considerável nos conceitos de transporte e de mobilidade. Transporte tem a ver essencialmente com carros, meios de locomoção, enquanto mobilidade tem única e exclusivamente a ver com pessoas e como elas podem se deslocar e aproveitar os espaços urbanos”, comenta.

Serrano ainda pontuou que a tecnologia é importante, mas precisa atender às políticas públicas e atingir os propósitos para uma cidade mais sustentável. “Em Barcelona, onde existe o metrô mais automatizado da Europa, prevê-se atingir 1 bilhão de viagens até o fim do ano, o que pode contribuir para baixa considerável na emissão de gases poluentes. Essa é uma preocupação legítima, já que, atualmente, a poluição gerada pelo trânsito catalão mata, em média, de 3.000 pessoas por ano”, revelou.

O cenário na América Latina

Das 63 grandes cidades latino-americanas, apenas 34 desfrutam de algum serviço ferroviário, lembrou Pablo. Para ele, apesar de todas as deficiências, a cidade de São Paulo, provavelmente, apresenta a melhor rede de transportes do continente. “As cidades da América Latina estão infestadas de carros. Ainda que São Paulo esteja com uma situação um pouco melhor nesse sentido em relação a Bogotá e à Cidade do México, tem uma quantidade de carros acima da média”.

Car sharing

Sobre o conceito de car sharing o especialista apontou que na Europa alguns estudos demonstram efetivamente que o sistema funciona muito bem. “O carro é considerado essencial porque é sinônimo de status e não porque oferece benefícios. O grande problema da maioria das cidades dependentes de carro como meio de transporte, como São Paulo, não é o automóvel em si, mas a forma como ele é utilizado. Esquemas de carona solidária podem ser um diferencial na diminuição da quantidade de veículos nas ruas”, finaliza Serrano.

Conferência

O evento, organizado pelo Instituto Mobih, aconteceu no auditório da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação. A mesa de debates contou com autoridades do setor, como Carlos Santana, vice-presidente do Instituto Mobih; Coronel Marcelo José Rabello Vianna, Comandante do Policiamento de Trânsito de São Paulo; Luiz Augusto de Souza Ferreira, da ABDI; Luis Eduardo Diaz T. Martins, urbanista e diretor da Life Telecom e Adalberto Maluf, da BYD.

Sobre o Instituto Mobih

Por meio de encontros, fóruns interativos e workshops temáticos, com uma variedade de agentes, especialistas e estudiosos, o Instituto Mobih propõe soluções e impulsiona a diversidade de diálogos sobre os desafios da mobilidade e, principalmente, sobre a transformação positiva que mudanças de atitude podem provocar em todo o país.

 

Da redação