Elétrico sim, mas combinado com motor flex

01/08/2023

A Stellantis está presente no mercado de veículos eletrificados puros e híbridos com versões de modelos como o Fiat 500 (Cinquecento), Peugeot 208 e 2008, Jeep Compass e furgões comerciais, mas apresenta uma visão para o mercado brasileiro que vai além de simplesmente eletrificar os seus carros.

Foi defendendo a um nova e exclusiva estratégia de colocar como prioridade da descarbonização do planeta, que Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul, apresentou ontem no Polo Automotivo de Betim (Minas Gerais) a nova tecnologia “Bio-Hybrid”, que combina a propulsão térmica flex e elétricas em plataformas a serem adotadas nos próximos lançamentos no Brasil.

As alternativas da arquitetura híbrida, desenvolvidas pelo Tech Center Stellantis na América do Sul, foram apresentadas em três plataformas de veículos atuais da empresa e “poderão ser adotadas na gama de marcas e produtos”, com foco em “soluções acessíveis de transição para uma mobilidade mais sustentável”.

Bio-Hybrid plataforma 1 Stellantis

A Fiat/Stellantis, tendo Filosa como porta-voz, defende desde as primeiras ameaças de chegada dos carros eletrificados ao Brasil as virtudes do etanol como combustível renovável. “O Bio-Hybrid faz parte da rota tecnológica da mobilidade acessível e sustentável adotada pela Stellantis. Queremos potencializar as virtudes do etanol, como combustível renovável, cujo ciclo de produção absorve a maior parte de suas emissões, combinando a propulsão à base do biocombustível com sistemas elétricos”, afirmou Antonio Filosa, sem esquecer de destacar também os ganhos de eficiência e economia de combustível trazidos pelos sistemas de propulsão elétrica.

Ele lembrou que o desenvolvimento das novas tecnologias de hibridização está em linha com o plano estratégico de longo prazo da Stellantis, Dare Forward 2030, que prevê a descarbonização de processos e produtos da empresa até 2038, com redução das emissões em 50% já em 2030.

 

Bio-Hybrid e-DCT plataforma 2 Stellantis

A tecnologia Bio-Hybrid apresentada pela Stellantis busca a descarbonização da mobilidade, diferenciando-se das demais “por privilegiar as características e recursos do Brasil, como o etanol e a energia elétrica limpa”, ressaltou Filosa. Queremos descarbonizar a mobilidade, mas queremos fazer isto de modo acessível para o maior número de consumidores e desenvolvendo tecnologias e componentes no Brasil, acrescentou.

Trata-se, segundo o executivo, de “uma oportunidade de reindustrialização e de reconfiguração da indústria nacional de autopeças, que é diversificada, complexa e muito importante para a e economia brasileira”.

Esse primeiro passo em direção à tecnologia Bio-Hybrid resultou em quatro plataformas para aplicação no veículos da Stellantis produzidos no Brasil. São elas a Bio-Hybrid, Bio-Hybrid e-DCT, Bio-Hybrid PLUG-IN e BEV (100% Elétrica).

“São plataformas baseadas em tecnologias diferentes, que apresentam distintos graus de combinação térmica e da eletricidade na propulsão do veículo. Cada uma destas tecnologias tem sua aplicação e, juntas, atendem a todas as faixas de consumidores, tornando acessíveis os sistemas híbridos baseados na combinação da propulsão térmica flex com a eletricidade”, explica Marcio Tonani, Vice-presidente do Tech Center da Stellantis na América do Sul.

A plataforma Bio-Hybrid traz como elemento um novo dispositivo elétrico multifuncional, que substitui o alternador e o motor de partida. Trata-se de equipamento capaz de fornecer energia mecânica e elétrica, que tanto gera torque adicional para o motor térmico do veículo quanto gera energia elétrica para carregar a bateria adicional de Lítio-Íon de 12 Volts, que opera paralelamente ao sistema elétrico convencional do veículo. O sistema gera potência de até 3KW.

A plataforma Bio-Hybrid e-DCT conta com a ajuda de dois motores elétricos. O primeiro deles é o que substitui o alternador e o motor de partida. Adicionalmente, outro motor elétrico de maiores proporções é acoplado à transmissão. Uma bateria de Lítio-Íon de 48 Volts dá suporte ao sistema e também é alimentada pelos dispositivos. Uma gestão eletrônica controla a operação entre os modos térmico, elétrico ou híbrido.

A plataforma Bio-Hybrid Plug-in conta com bateria de Lítio-Íon de 380 Volts, recarregada através de sistema de regeneração nas desacelerações, alimentada pelo motor térmico do veículo ou, por fim, através de fonte de alimentação externa elétrica (plug-in). A arquitetura conta ainda com motor elétrico que entrega potência diretamente para as rodas do carro. O sistema gerencia a operação entre modo térmico, modo elétrico ou híbrido.

Por fim, a solução BEV (100% Elétrica) é totalmente impulsionada por um motor elétrico de alta tensão alimentado por uma bateria recarregável de 400 Volts, por meio de sistema de regeneração ou através de plug-in. A arquitetura oferece torque instantâneo, com acelerações rápidas e responsivas típicas dos veículos 100% elétricos. O sistema possui sonoridade customizável.

 

BEV 100% elétrica Stellantis

O recado dado pela Stellantis foi que a marca reconhece que a propulsão elétrica é um caminho sem volta no setor automotivo mundial. No entanto, acredita que para se adequar ao cenário brasileiro, é necessária uma rota de transição. “Devido à sua matriz energética, o Brasil tem a oportunidade de fazer uma transição mais planejada e menos onerosa, aproveitando-se da gradual redução dos custos decorrentes da massificação da tecnologia dos carros eletrificados”, explicou João Irineu, vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis para América do Sul.

Quando considerado no ciclo de vida completo do automóvel, o uso do etanol é extremamente eficiente em emissões, uma vez que a cana-de-açúcar em seu ciclo de desenvolvimento vegetal absorve CO2, o que proporciona cerca de 60% de mitigação final do CO2 emitido quando comparado ao uso da gasolina. Além disso, o Brasil acumula mais de quatro décadas de tecnologia nesse combustível e possui uma imensa plataforma produtiva, logística e de distribuição já implantada.

Enfatizando esse histórico, a Stellantis apresentou no encontro de ontem uma unidade térmica exclusivamente a etanol, que poderá estar presente em produtos da companhia nos próximos anos e, inclusive, nas plataformas Bio-Hybrid.

Fábio Doyle