Alma de cavalo selvagem

05/09/2019

A Porsche relutou, mas finalmente se rende à nova e irreversível realidade dos automóveis movidos a eletricidade.

Com lançamento simultâneo em Berlim (Alemanha), Fuzhou (China) e Niagara Falls (Canadá), a marca alemã apresentou ao mundo o Taycan, um carro que foge totalmente de tudo que a Porsche já desenvolveu em sua história.

A começar pela ausência do som gutural característico de poderosos motores turbinados presentes em todos os modelos da marca, símbolo de potência e esportividade.

O Taycan chegará aos principais mercados ainda este ano apresentando uma autonomia de até 450 quilômetros.

Aerodinâmica foi uma das prioridades no projeto Taycan

O característico silêncio dos carros elétricos, que tanto incomoda os apaixonados pelo automobilismo movido a motores de combustão interna, está presente no Taycan. Mas os clientes Porsche deixarão de lado o desapontamento inicial assim que pisarem no acelerador do Taycan. O carro acelera de 0 a 100 km/h em meros 2,8 segundos enquanto motorista e passageiro têm seus corpos pressionados contra o encosto dos bancos nesse bólido com peso de 2.295 quilos.

O Taycan “tem a dirigibilidade de um Porsche, a aparência de um Porsche, cheira como um Porsche e tem a alma de Porsche – mesmo tendo um conjunto motopropulsor elétrico”, disse Stefan Weckbach, chefe de desenvolvimento do Taycan.

Com o Taycan, a Porsche foi de encontro ao nervoso novo mercado dos carros elétricos de alto desempenho. A Tesla deu o primeiro passo nesse campo, que agora se tornou um campo de batalhas onde lutam os fabricantes de carros de luxo, incluindo Mercedes-Benz, BMW, Audi e Jaguar.

Mas o Taycan não será o primeiro e único Porsche elétrico. É a vanguarda de uma série de carros elétricos que a Porsche planeja para a próxima década, incluindo crossovers e roadsters.

A Porsche está otimista com a adoção de EVs (veículos elétricos) porque a tecnologia se aproxima de um “ponto crucial” nos Estados Unidos, disse Klaus Zellmer, CEO da Porsche América do Norte.” Até 2025, nós esperamos que mais de 50 por cento de todos os veículos que vendemos no mundo terá uma tomada – bateria elétrica ou híbrido”, disse Zellmer.

Veículo de conquista

Os executivos da Porsche enxergam o Taycan como o “modelo de conquista final” – uma arma de quatro rodas para atrair novos clientes. O Taycan já conseguiu acumular mais de 30 mil pedidos de reserva mundialmente, o que levou a Porsche a considerar a antecipação de sua previsão inicial de produção.

Autonomia do Taycan, primeiro elétrico da Porsche, pode chegar a 450 km.

O lançamento do Taycan começa com as duas versões mais caras – a Turbo e Turbo S. A Turbo terá preço inicial nos Estados Unidos de US$152.250 e a Turbo S começa em US$186.350. O frete está incluído nos preços sugeridos. No Brasil, deve chegar em 2020.

A versão “top-of-the-line” Turbo S entrega até 761 cv e vai de 0 a 100 km/h em apenas 2,8 segundos. A Turbo, chega a 680 cv e faz de 0 a 100 em 3,2 segundos.

A Porsche tem sido questionada por utilizar a expressão “turbo” para um veículo desprovido de um motor de combustão interna. A Porsche responde dizendo que “Turbo” é a descrição rápida de “performance”, seja qual for a tecnologia.

“A submarca Turbo é algo que tem uma longa história dentro da Porsche,” disse Weckbach. “Nós então decidimos que iremos continuar com essa submarca em todos os projetos elétricos.”

Design

Aerodinâmica, que é um aspecto crítico para a autonomia da bateria e eficiência energética, inspirou o desenho do Taycan, mas não de forma determinante. A Porsche procurou maximizar a aerodinâmica, “mas nós não estamos prontos para aceitar qualquer imposição em termos de design,” disse Weckbach.

O Taycan traz o desenho da garrafa de Coca e adota a “cabeça pequena com ombros largos” característicos do icônico Porsche 911.

Uma combinação de tomadas de ar ajustáveis e spoilers traseiros variáveis dão ao Taycan um coeficiente aerodinâmico de 0,22, transformando-o no mais aerodinâmico dos Porsches, afirma o fabricante.

Interior tem marca registrada da marca, que transpira esportividade.

Uma suspensão a ar ajustável reduz a área de superfície frontal ao reduzir a altura do veículo em dois estágios quando em velocidades mais altas.

O peso da bateria localizada na parte traseira reduz a altura do carro e permite aproximar o design esportivo ao caraterístico dos Porsche coupés. A altura do solo do Taycan é 4,06 centímetros mais baixa do que a do Porsche Panamera quatro portas.

Conjunto motopropulsor

O coração do Taycan é uma bateria de lítio íon de 93,4 quilowatt-hora, conectada a dois motores elétricos, um em cada eixo. Trata-se do primeiro veículo em produção capaz de carregar a 800 volts, o dobro dos EVs típicos. Isso reduz o tempo de carga, o peso e espaço de instalação necessário para cabeamento.

A bateria pode ser recarregada de 5 a 80 porcento em 22,5 minutos utilizando carregadores de alta potência, com uma capacidade máxima de carga de 270 kW.

A Porsche quer ampliar a capacidade de carga e comprimir mais potência a partir da bateria com a evolução tecnológica das baterias.

“Estamos trabalhando com um fornecedor para conseguir mais potência a partir da bateria,” disse Joachim Kramer, diretor de potência eletrônica da Porsche para o Taycan.

Como os EVs da Tesla, o Taycan pode aquecer automaticamente da bateria antes e durante uma sessão de carga rápida de forma a maximizar as velocidades de carga.

A potência de carga de uma bateria lítio íon depende da temperatura da bateria, explicou Kramer. Quanto mais fria está a bateria, menor é sua capacidade para absorver a energia.

“O objetivo é ter a bateria no ponto ideal de uma temperatura relativamente alta para otimizar o processo de carga,” disse.

 

Taycan Turbo

CV: até 680

0-100 km/h: 3.2 segundos

Autonomia: Até 450 km

Velocidade máxima: 260 km/h

Taycan Turbo S

CV: até 761

0-100 km/h: 2.8 segundos

Autonomia: 412 km

Velocidade máxima: 260 km/h

Fábio Doyle