Jornalistas estão ganhando novo chefe

16/09/2016

Foi a partir dos anos 2000 que o jornalismo, especialmente o impresso, começou a perder força para a digitalização da informação. Principalmente por que no Brasil, país com índice de leitura muito baixo, a mudança do hábito de consumo de informação ocorreu de forma radical para o digital. Jornais que vendiam 1 milhão aos domingos, hoje registram 300 mil unidades entre assinantes e banca.

A informação rápida, imediatista, muitas vezes sem checagem, sem ouvir o outro lado como prega o bom jornalismo, começou a virar costume. Algum erro? Depois é só trocar a informação na página... E olhe que esse nem é o maior problema.

Mais importante do que a boa história, hoje o relevante é montar a matéria que possa ser reconhecida e estar em posição de destaque na busca do Google. Repetir palavras na mesma frase, trabalhar com palavras-chave.

O jornalismo investigativo e rico em análise começou a minguar. O ideal do jornalista está cada vez mais utópico. Bom mesmo é conseguir pagar as contas no final do mês.

Mas e toda essa capacidade analítica, de encadear as ideais e colocar no papel uma história? Penso que não morreremos mas mudaremos de chefe. Seremos subordinados ao Marketing, que precisa de conteúdo. É o tal do Branded Content, Mídia Programática, etc...

Tirando uma pequena parcela que se transformará em influenciadores digitais de grande relevância, o jornalista como “ser pensante” e detentor de opinião está se transformando em um real operário da palavra. Seremos meros escribas. Não seremos mais formadores de opinião, seremos geradores de conteúdo. Nosso trabalho será escrever sobre empresas, produtos, pessoas que pagam para aparecer.

Talvez em cinco anos a partir de agora, o leitor terá real dificuldade em perceber se aquela “reportagem” é 100% editorial ou paga. A credibilidade da informação está sob real ameaça. E pode desaparecer. Aquele informe publicitário do passado está muito mais sofisticado. Ele nem sempre é tão claro, principalmente por não querer ser na maioria das vezes.

Nessa de “gerar conteúdo”, os marqueteiros, que são muitos melhores que nós jornalistas para embalar as coisas, inventaram o Storytelling, ou seja: não basta informar. É preciso uma "nova" narrativa, por meio de uma história que tem que ser contada, principalmente tendo como ponto de partida o exemplo de alguém, uma vivência, uma experiência como ponto de partida para explicar o todo.

Para quem é jornalista, esse formato é mais velho que andar para frente. Nada mais do que uma matéria com personagem, tão comum nas matérias de tevê.

Mas não digamos isso em voz alta, afinal é preciso respeitar o nosso novo chefe.

• Renato Acciarto é jornalista e especialista em Comunicação Empresarial

 

Renato Acciarto (*)