Peso nos ombros

26/09/2014

Não é por outra razão que ao menor sinal de crise é no setor automotivo que a mão do Estado precisa agir para evitar, ou pelo menos adiar, desemprego e inflação. A cadeia automotiva no Brasil tem 1,5 milhão de empregados, 200 mil empresas, e a maior carga tributária do mundo, 33%, enquanto a média dos países fica em 15% e não passa de 6% nos Estados Unidos, conforme informou Cledorvino Belini, presidente do grupo Fiat na América Latina, em entrevista a um jornal paulista.

Vem daí, da ameaça de demissões, que basta as vendas de carros novos darem sinal de queda para o governo criar mecanismos de incentivos e ampliação de crédito. É uma solução paliativa e limitada, que gera uma série de consequências negativas como inadimplência, poluição, e trânsito caótico, já que o nível de investimentos na infra-estrutura viária é infinitamente menor que o crescimento da frota circulante.

A solução está em reduzir o grau exagerado de participação da indústria automotiva na economia do país, sem necessariamente diminuir seu desenvolvimento. Como? Incentivando investimentos em outros setores, mas principalmente nos ligados à mobilidade, de forma a equilibrar a oferta de meios de transporte. Ao incentivar outros meios de mobilidade, capazes de oferecer conforto, segurança e pontualidade, é óbvio que os hoje usuários de carros particulares deixarão seus automóveis na garagem e de lá só o tirarão em casos especiais.

E isso não é utopia. Essa conseqüência foi recentemente comprovada com a polêmica implantação de ciclovias na cidade de Nova York. O espaço para carros diminuiu, a reclamação foi geral no primeiro momento, mas o trânsito melhorou, os trajetos são agora percorridos em menor tempo e o número de acidentes diminuiu muito.

Um bom começo é promover o renascimento dos sistemas ferroviários de transporte, urbanos e de longa distância para passageiros e cargas. É essa a simples e descomplicada fórmula para que a indústria automotiva se livre do peso de ser a principal responsável pela geração de empregos e o governo deixe de depender de apenas um setor para driblar crises econômicas. A única dificuldade é ignorar os interesses nocivos e egoístas dos lobistas, que não são poucos e muito menos fracos.

Fábio Doyle